segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Não quero me acostumar com a beleza, nem com o sorriso que no começo vemos como passaporte pra uma vida feliz. Não quero me acostumar com a graça de um gesto carinhoso, com palavras escolhidas pra me agradar, com a roupa colocada pra provocar. Não quero me acostumar com o que é feio, com a tristeza, com os egoístas, com a falta de gentileza, com atitudes rudes. Não quero me acostumar com o bom e com o ruim. Não quero me acostumar com o choro. Não quero me acostumar com as diferenças. Não é aceitável que o costume nos cegue, que a resignação nos ampute. Eu não quero concordar com os acomodados, com a frase dos apáticos: “é assim mesmo, a gente acaba acostumando”. Não quero me acostumar com beijos ardentes, conversas completas, planos fantasiosos, pensamentos esperançosos. Não quero me acostumar com a falta de carinho, altruísmo, simpatia, humor, surpresa e com a extinção dos abraços. Não quero e não posso me acostumar com a falta de coragem dos que não pretendem e nem querem mudar. Não quero me acostumar com o excesso de diálogos vazios, pessoas mal educadas, fúteis de plantão. Não vou me acostumar com o excesso de realidade, de desesperança, de crueldade. Não quero me acostumar com as brigas, com as palavras doloridas. Eu não quero e não vou me acostumar. Nem com o belo, nem com o feio. Nem com aquilo que me faria cair no choro e jamais com o que me faria gargalhar. É preciso resgatar aquela parte da gente que não se acostuma, que não se acomoda, que não aceita. Quem sabe quando fizer esse exercício do “desacostume”, passe a enxergar virtudes, belezas, sorrisos perdidos. Quem sabe se o muito do que está aí, não depende de um olhar mais atento, de um esforço, de uma percepção. Vou resgatar a capacidade de me surpreender todo dia. Me surpreender com uma flor nascida fora de hora, com uma atitude gentil, com a beleza de um dia ensolarado, com um texto bem escrito, com um animal brincando, com o gesto de alguém que me fez sorrir num dia nublado. Também quero devolver a capacidade de me surpreender com as crianças famintas, com o caos generalizado, com atitudes ásperas, com a falta de sensibilidade, com a saudade de algo que já se foi, com o caráter dos desonestos, com o grito de um mal educado. Quero voltar a enxergar, perceber e não me acostumar. Nem com o que me agrada e jamais com aquilo que me destrói.’

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